domingo, 3 de janeiro de 2016

Mãozinha para quê?


Olá meus amigos. Hoje estou de volta, como prometido, para vos falar sobre como é que me estou a adaptar à minha “mão nenuco”. A primeira coisa que gostava de dizer, é que tudo o que faço com a prótese, faria igual ou melhor sem ela! Os meus pais têm consciência disso, mas estão convencidos que se eu me adaptar bem, é mais provável aceitar uma prótese mais desenvolvida e que me seja útil, no futuro. A ideia não é esconder, mas ajudar na adaptação. A minha rejeição está sempre garantida, mas estão tentar evitá-la. Neste procedimento contam com o apoio da minha médica fisiatra do Hospital Dona Estefânia (HDE), que me acompanha desde o início.

Como expliquei no post anterior, desde que consegui ficar confortável com a prótese, comecei a dominar a minha mão nova, usando-a como se estivesse sempre lá. Para tal, tive treinos de terapia ocupacional no HDE de 27 de janeiro a 9 de abril, altura em que tive alta, pois os meus pais aprenderam o que tinham de fazer em casa. A minha amiga terapeuta deslocou-se ainda à creche (24ABR) para aconselhar as minhas educadoras sobre quais eram os melhores exercícios para fortalecer e usar o meu braço. Durante o período letivo ponho a minha prótese de manhã e só a tiro quando chego a casa para ir ao banho. Normalmente passo um dia por semana sem prótese. Disseram aos meus pais que “aquilo não era um sapato”, mas eles acham que é um exagero eu dormir com a minha mão de plástico, pois transpiro e a luva interior tem de ser mudada. Aliás, a Sr.ª Dr.ª fisiatra elogiou os meus pais, na consulta no HDE, pela adaptação que eu estou a fazer.

Vamos lá então explicar o que é que eu já faço com a minha mão, depois de passar por uma fase em que levava tudo à frente, pois não controlava a distância (fazia-me lembrar os adolescentes que têm o braço maior do que a distância que o cérebro perceciona!): faço rodar um moinho sem o deitar a baixo; bato palmas; ergo os braços quando alguém grita “viva o Benfica” (acho que o clube é a única coisa que não se pode mudar na vida); dou “mais 5”; chucho no dedo da prótese; ajudo a minha mão esquerda a levantar um objecto; quando quero agarrar duas coisas coloco um delas debaixo da prótese; e, muito importante, faço “ordem à mesa” (como o martelo que os juízes usam nos filmes). Esta foi a “forma parva” como o meu pai achou que eu podia fazer exercício com o braço, mas que lhes tem trazido vários dissabores: a prótese já se partiu duas vezes, nos restaurantes têm de evitar vergonhas colocando guardanapos para abafar o som e os meus manos já levaram alguns “ordem à mesa” na cabeça em substituição de festinhas. Realizei um pequeno vídeo, em anexo, onde mostro algumas das minhas performances, com uma banda sonora que podia ser dedicada a mim.



Mas nem tudo são rosas. Tenho grande dificuldade em gatinhar, pois a prótese escorrega, pelo que, antes de andar, preferia arrastar-me pelo chão a grande velocidade. O principal problema foram as férias de verão. Quando estava na piscina ou na praia não colocava a prótese e só usava um pouco ao fim do dia. A diferença fez-se sentir: eu brincava com a minha mão e colocava-a no sítio sozinho e passei a fazer má cara quando a vejo! Só consegui voltar à rotina no início das aulas.

Para já estou bem. Julgo que uma das preocupações da minha pediatra está controlada: o uso da prótese não tira sensibilidade ao braço? Os meus pais equilibram o tempo de uso da prótese e estou cheio de força no meu braço direito. A última brincadeira lá em casa é jogar ao “puxa”. É uma espécie de braço de ferro: alguém agarra a ponta do meu braço e eu puxo até soltar. Nem imaginam a força que eu consigo fazer. Só há algo que parece não ter solução por muito que que eu pratique natação e faça exercício com o meu braço: quando nasci tinha uma relação de 7 para 8 cm entre o comprimento dos meus dois braços. Atualmente esta proporção não se mantém, mas isso não me tira uma grande alegria de viver.
Termino por hoje, desejando um Ano de 2016 muito feliz e cheio de saúde para todos os meus amigos do blogue.